Uma breve sena escrita, e falado por personagem do TCHILOLI;
MARQUÊS:
Senhor, por que vos deixais?
Quem vos tratou de tal sorte,
E quem é o que tal morte
Vos deu ,como publicais?
Que assaz é este mal forte!
Não me negueis a vrdade;
Contai-me vosso pesar,
Que vos prometo ajudar
Com tanta força e vontade.
Valdovinos:
Muito me agasta amigo,
certamente o teu tardar;
Dizes se trazes contigo
Quem me haja de confessar?
Marquês:
Marquês:
Eu não sei quem vós cuidais!
Nunca comi vosso pão,
Mas vosso gritos e ais
Me trouxeram aonde estais
Mui movido a compaixão
Dezei-me vossa agonia
Que, se remédio tiver,
Eu vos prometo fazer
Com que tenhais alegria
Valdovinos:
Meu senhor, muitas mercês
Nunca comi vosso pão
Por vossa vontade!
Bem creio que me fareis
Muita mais do que dizeis,
Segundo mais do que dizeis,
Segundo vossa bondade,
Mas minha dor é mortal,
Meu remédio só a morte,
Porque eu estou parado tal,
Que nunca homem mortal
Foi tratado de tal sorte;
Tenho , senhor, vinte e duas
Ferida todas mortais,
As entranhas roas, nuas,
E passo penas tão cruas,
Que não poderão ser mais.
Há-me morto à traição
O filho do Imperador
Carloto a grã sem razão,
Mostrando-me todoo amor,
Não o tendo no coraçã.
Muitas vezes requeria
Minha esposacom maldade,
Mas ela não consentia
Pelo bem que me queria ,
Por sua grande bondade.
Carloto cim grã pesar,
Como mais traidor que forte,
Ordenou de me matar,
Cuidando com minha morte
Com ela não haver de casar.
Matou-me com tal falsia,
Trazendo cinco consigo,
Sem eu trazer mais comigo
Que um paje por companhia.
A mim chamam Vadovinos,
Sou filho de El-Rei de Trácia,
E primo de El-Rei da Grecia,
E do forte Montesinhos,
Que é herdeiro de Frácia,
Dona Ermelinda formosa
minha Madre natural,
E sibila minha esposa
De graças especial,
Mas com primores famosa.
Esta nova contareis
À triste da minha madre,
Que em Mântua achareis,
E ao honrado Marquês
Meu Tio, irmão do meu Padre.
Marquês:
Oh desastrado viver!
Oh amargosa ventura!
Oh ventura sem prazer!
Praze cheio de tristura!
Tristura que não tem ser!
Oh desventurada sorte!
Oh sorte sem sofrimento!
Desamparado tomento!
Muito poir que a morte!
Morte de desabrimento!
Oh meu sobrinho, meu bem,
Minha esperança perdida,
Oh glória que me sutém,
Por que vos partei de quem
Sem vós não terá mais vida?
Oh desventurado velho,
Cativo sem liberdade!
Quem me pode dar conselho,
Pois quebrado é o espelho
Da minha grã claridade?
Oh minha luz verdadeira,
Trevas do meu coração,
Penas da minha paixão,
Cuidado que me marteira,
Tristeza de tal traição!
Por que não quereis fala
A este Marquês coitado,
Que tio soies chamar?
Falei-me, sobrinho amado,
Não me façais rembentar.
Valdovinos:
Meu tormento tão moleto
Me faz não vos conhecer
Nem na fala nem no gesto,
Nem entendo vosso dizer,
Se não for mais manifesto.
Que não sei se sou alguêm,
Nem menos conheço a si,
Mal conhecerá ninguêm.
Arcadio da silva

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